23/05/2014

Aleksandr Dugin - O Caminho Crimeano

por Aleksandr Dugin

Pode-se ressaltar quatro correntes importantes de eventos que aconteceram na última semana no drama ucraniano:

  • O início da campanha presidencial e a tentativa de Kiev de apresentar "o início do ciclo eleitoral", marcado por um confronto entre o grupo de Poroshenko contra o grupo de Timoshenko;
  • A tentativa do agrupamento pró-americano ilegítimo, que controla o poder em Kiev, de encontrar uma solução para a questão com formações neonazistas ("Setor Direito", o julgamento de Goran);
  • Batalha diplomática da Rússia na arena internacional pela defesa de sua posição na Criméia e pela idéia de federalização;
  • Eventos revolucionários no sudeste que se sucederam nesse fim de semana após a repressão de ativistas da sociedade civil no sudeste que não obedecem ao poder ilegítimo em Kiev.
Imitação de "eleição" e seu boicote no sudeste

Kiev luta para dar a entender que nada especial está ocorrendo agora, e que independentemente da vitória total da "revolução" Euromaidan e a derrubada de Yanukovich, o país pode ingressar alegremente no ciclo eleitoral de primavera. Pelo menos, segundo a mídia ucraniana, essa parece ser a verdade. Porém, não há razões para acreditarmos nisso, porque a suposta "eleição" se dá em um país no qual não apenas um golpe inconstitucional ocorreu há alguns meses, mas que também perdeu o amplo território da Criméia, e que tem que lidar com ondas maciças de protestos no sudeste.

Nessa situação o Ocidente possui a seguinte intenção: atrair atenção para a competição entre dois candidatos igualmente pró-americanos, Poroshenko e Timoshenko, e (mesmo relativamente) "legitimar" a eleição de maio colocando nela supostos "candidatos do leste" (Tsarev, Dobkin, Tigipko). Como a eleição se dará em circunstâncias extremas, mesmo no caso hipotético de revolução, a vitória será concedida a um candidato ocidental (porque o Ocidente factualmente - EUA/OTAN e as regiões ocidentais da Ucrânia - orquestraram o golpe de março em Kiev). Posteriormente, o novo governo organizará repressões em larga escala no sul e no leste o que pode gerar uma escalada no conflito com a Rússia. Esse é o plano tanto dos EUA como do agrupamento ilegítimo que controla Kiev e executa seu plano. Essa performance se desdobrará por sua própria lógica até maio e seu objetivo não é o resultado, mas o processo em si. O sistema existente, tanto indiretamente como inconscientemente, já é legitimado pelo envolvimento de pessoas no tema eleitoral. Isso também fortalece na mente da sociedade civil a idéia de um golpe irreversível. Porém, esse artifício é transparente para todos os observadores que seguem atentamente a situação na Ucrânia.

Primeiramente, a Rússia anunciou claramente que não reconhecerá por antecipação os resultados das eleições de maio. Segundo a perspectiva russa, não importa se as eleições de maio serão conduzidas ou quem vencerá. Nesse contexto, o fato de que Tsarev será um dos candidatos não deve ser superestimado. Moscou simpatiza com esse político anti-ocidental, mas não aposta nele: suas chances são mínimas e sua participação joga nas mãos de agrupamentos ilegais. Moscou possui atitudes positivas em relação a Tsarev, mas sua nomeação como candidato presidencial não é saudada. Se Moscou não reconhecer a eleição, governantes ilegítimos não serão capazes de estabelecer relações diplomáticas com Moscou mesmo após maio. Dado, é claro, que essa eleição geral ocorra mesmo em tais circunstâncias.

Em segundo lugar, a Rússia insiste na realização de um referendo sobre o status das áreas do sudeste da Ucrânia e sua federalização (ou confederação). A Rússia acredita que a Ucrânia deve ser "criada" primeiro e então depois realizar as eleições. Moscou compreende a situação da seguinte maneira: há duas nações, duas sociedades na Ucrânia. O oeste e Kiev se referem aos zapadentsi (termo pejorativo para os ucranianos ocidentais), o sul e o leste se referem à Rússia (e sua história, cultura, língua, religião, identidade e características sociais). Eles sempre votam de maneiras opostas: os primeiros por um candidato ocidental (pró-americano, pró-europeu) e os últimos por um candidato pró-russo. Yuschenko era um zapadenets. Yanukovich se apoiava no sudeste. O Euromaidan derrubou o oriental Yanukovich, e como resultado o golpe levou legítimos zapadentsi ao poder.

A nação unida da Ucrânia só poderia ser criada tendo consideração pelas duas identidades, mas ninguém pode fazer isso, nem candidatos ocidentais, nem orientais. Hoje em Kiev os zapadentsi se apoiam em neonazistas e proclamaram uma política que quer transformar toda a Ucrânia (excluindo agora a Criméia) em uma "Zapadenia" (um país só para os zapadentsi). Uma prova disso é a abolição da língua russa e a russofobia geral do regime. Zapadentsi radicais controlam Kiev e portanto o sudeste da Ucrânia, o que significa que pelo menos metade da população se tornará vítima de genocídio cultural e étnico inevitável. A Rússia não permitirá isso, e é por esse motivo que ela demanda a federalização primeiro, e eleições depois. Se não houver federalização e referendo sobre o status das áreas, não haverá Ucrânia com suas fronteiras atuais. É isso que Moscou e o Ministro de Relações Exteriores Sergei Lavrov dão a entender.

Federalização no ultimato do Kremlin a Washington

A federalização é a única condição pela qual a Rússia reconhecerá qualquer futura autoridade ucraniana. Ainda que Washington quera aceitá-lo, para pelo menos pacificar uma Moscou enfurecida com a derrubada de Yanukovich, na atual situação Kiev não concordará com a federalização de qualquer maneira. O regime assumiu o poder sob slogans nacionalistas extremistas em um frenesi russofóbico chauvinista.

Portanto, Kiev persistirá com as eleições sem referendo ou federalização. E o que fará Moscou nesse caso? Já que seu ultimato será rejeitado.

Isso nós veremos depois, mas precisamos notar um fato importante: na perspectiva de Moscou não há eleição. Isso significa que não há também para as regiões do sul e do leste da Ucrânia, que são guiadas por Moscou, e após a reunificação da Criméia, não apenas guiadas, mas depositam em Moscou sua esperança, e pela primeira vez em 23 anos realmente confiam nela. Moscou afirma com firmeza que não há eleição. Não há como o sudeste da Ucrânia não ouvir Putin, quando ele disse que eleição antes de referendo e sem federalização é efetivamente traição. Portanto, as eleições de maio serão radicalmente boicotadas pelo sudeste. Isso é apenas uma parte do ultimato de Moscou, mas não tudo que há nele.

Atlanto-Fascismo: Paradoxos da Guerra de Rede e as Leis da Geopolítica

O segundo tema da última semana é a intriga ao redor do "Setor Direito", os rumores sobre apoio de Kolomoysky, o julgamento e absolvição dos assassinos do "Martelo Branco" em Kiev, o programa pró-OTAN e liberal do "candidato presidencial" Yarosh, seu reconhecimento de colaboração com a CIA, etc.

O "Setor Direito" e o ultranacionalismo radical ucraniano em geral (algumas vezes um neonazismo direto) são a intriga do Euromaidan. Usualmente, em "revoluções coloridas" americanas, liberais e anarquistas desempenham os principais papéis. Dessa vez, os ultranacionalistas com uma direção russofóbica aparecendo sob a bandeira da UPA (Exército Insurgente Ucraniano) e com retrato dos capangas de Hitler, Bandera e Shukevych no fundo. Tal ousada solução político-tecnológica da CIA é uma repetição de esquemas similares no mundo islâmico, em que os EUA tem tradicionalmente apoiado grupos radicais wahhabis e salafis que ensaiam diferentes golpes benéficos a Washington, ataques terroristas, e outras operações extremistas. O wahhabismo e o salafismo são o núcleo do proxy atlantista no mundo islâmico, e podemos vê-lo na Líbia, Iraque, Síria, etc. Algum tempo atrás, os EUA começaram a testar a instrumentalização de movimentos de extrema-direita na Europa, bem como na Ucrânia e até mesmo na Rússia; exemplificado pelos casos de Breivik, os nacional-democratas russos, etc.

Os liberais aumentaram o fluxo de imigrantes com uma mão, e com a outra mão começaram a apoiar grupos neonazistas radicais que foram organizados para combater essa mesma imigração. O objetivo é desestabilizar a sociedade e criar as condições para "revoluções coloridas". No Euromaidan, os EUA tentaram a nova estratégia de rede de usar grupos neonazistas para ensaiar golpes em tal escala pela primeira vez, e esse também pode ser considerado como a origem do fenômeno do "Setor Direito".

Essa é a teoria e a prática da nova tendência ocidental de guerra de rede. É claro, nem todos os ultranacionalistas podem contar com apoio de Washington, da CIA e oligarcas integrados na oligarquia financeira internacional (geralmente de origem judaica, como o bilionário Igor Kolomoysky, que foi apontado pelo agrupamento ilegítimo de Kiev como "governador" de Dnepropetrovsk, ao mesmo tempo que ele é o cabeça do Congresso Judaico Europeu e do "Setor Direito"), mas apenas aqueles que se opõem aos inimigos dos EUA e da OTAN ou são leais a ambos. Agora os EUA estão lutando para manter o modelo unipolar do mundo. Ao mesmo tempo, a Rússia com mais e mais sucesso defende o modelo multipolar do mundo.

Portanto, aqueles neonazistas que se opõem a Rússia estão em uma situação privilegiada e são ativamente envolvidos nas estratégias americanas. Similarmente, Brzezinski usou a Al-Qaeda e Bin Laden no Afeganistão entre muçulmanos para promover resistência às forças pró-soviéticas. Para garantir a lealdade a seus donos, os neonazistas, tais como Goran ou Yarosh, enfatizam seu apoio à OTAN, visitam a embaixada israelense de maneira destacada e juram fidelidade a valores liberais.

É um segredo dessa semana: após um ativista do "Setor Direito" disparar três balas contra um membro da Auto-Defesa do Maidan, o quartel-general do "Setor Direito" apenas mudou discretamente de lugar. Um Goran ensanguentado que assassinou representantes da polícia de trânsito foi tranquilamente inocentado.

Nós estamos lidando com o fenômeno do atlanto-fascismo, a versão liberal do nazismo, que é acobertada pelos EUA e pelas forças oligárquicas do globalismo. À primeira vista, este é um paradoxo e uma anomalia. Mas para aqueles familiares com as regras de conduta da guerra de rede com as leis da geopolítica, é, pelo contrário, bem lógico. A rede, que foi organizada ao modo pós-moderno, envolve o uso de personagens livres de qualquer ideologia, mas que podem ser facilmente manipulados e contribuir durante as operações da rede. A geopolítica divide representantes de qualquer ideologia em dois campos: para os EUA, OTAN, União Européia, um mundo unipolar (atlantistas) e para a Rússia, multipolaridade, BRICS (Eurasianos). Quaisquer sejam as opiniões tidas por atlantistas, elas serão apoiadas pelos liberais e pela oligarquia financeira dominante no atlantismo.

E não importa que opiniões sejam professadas pelos apoiadores da multipolaridade e eurasianos, eles serão desacreditados e acusados de todos os pecados mortais.

Nesse contexto, a situação com o "Setor Direito" é uma ilustração simplesmente brilhante. Se um assassino nazista declarado apoia os EUA e a OTAN contra a Rússia, ele não é um nazista, nem um fascista, nem um assassino. Mas se um democrata ou uma pessoa sem qualquer ideologia está ao lado da Rússia, ele é automaticamente acusado de "fascismo", "nazismo", "stalinismo", etc. Muitos observadores dos eventos na Ucrânia tiveram um choque por causa dessa duplicidade. Lhes são mostrados os rufiões segurando retratos do capanga de Hitler, Bandera, e lhes dizem que aqueles são "pacíficos liberais". Os rufiões mostram uma patinadora russa, e a inscrição diz: "Essa é a face cínica e enganosa do fascismo de Putin". Há uma razão para enlouquecer. Especialmente se você assiste programas de TV ucranianos. Mas isso não é só sobre a Ucrânia. São apenas as novas regras de operações de rede segundo as leis da geopolítica.

Rússia vs. EUA: Dois tipos de brutalidade

No nível internacional, a Rússia entrou em uma batalha diplomática com os EUA. A situação é exacerbada pelo fato de que o debate está sendo travado entre duas potências nucleares. E assim, a responsabilidade de ambos os lados é imensa.

A Rússia defende a posição: a Criméia é um território russo, a Ucrânia deve ser federalizada, as eleições de maio são inválidas, Yanukovich é o presidente. Os EUA respondem: o referendo na Criméia é inválido, a Ucrânia é um Estado unitário, as eleições de maio são legítimas e as atuais autoridades em Kiev representam o país legitimamente. Nenhum dos lados pode chegar a um consenso sobre qualquer das questões.

A única diferença é que os EUA pressionam a Rússia em relação a seus interesses vitais, e a Rússia não permite que os EUA façam isso. Em outras palavras, a América está essencialmente comprometida com um ato de agressão contra a Rússia ao apoiar o golpe em Kiev. E o apoio de Washington aos grupos de Kiev é na prática um ataque. Enquanto isso, a Rússia está se defendendo e o faz de uma forma bastante dura.

Uma crueldade dos EUA e da Rússia é fundamentalmente diferente: para a América o destino da Ucrânia é algo secundário, ela não está incluída na área de interesses vitais americanos, já que ela é geograficamente distante e os EUA tem muitos desafios além da Rússia. Assim, os americanos botam pressão apenas por garantia, testando a Rússia pelo uso de contato direto. Ainda que os EUA recuem ou entreguem a Ucrânia a Moscou, mesmo nesse caso eles não perdem muito porque a Ucrânia era completamente neutra antes e estava fora de seu controle. Nessa situação, nem os EUA, nem a OTAN lutarão sob quaisquer circunstâncias. E hipoteticamente eles podem facilmente passar à posição de início.

Porém, a Rússia está arriscando tudo. A crueldade de Moscou é forçada, nessa situação; a Rússia não pode em geral recuar em relação a qualquer ponto, arriscando enfraquecer qualitativamente seu nível de segurança, porque ainda que a OTAN entre na Ucrânia ocidental e se mova na direção da fronteira oriental, a perda da Criméia e do sudeste seria um suicídio estratégico para a Rússia. Assim Moscou luta por suas idéias desesperadamente; nós simplesmente não temos oportunidade de dar passos para trás. Estrategicamente perderíamos, ainda que nos reuníssemos com o sudeste e a fronteira estivesse na linha que vai do Dnieper do nordeste (Sumy-Chernigov) ao sudoeste (Odessa). Portanto, Lavrov e Putin escolheram a plataforma mais suave para um confronto com o Ocidente. Federalização é uma chance para Kiev manter controle sobre todo seu território (excluindo a Criméia). A crueldade americana é bem previsível. A crueldade de Moscou impressiona e inspira um horror à quinta coluna e esperança aos patriotas. Mas esse jogo russo-americano apenas começou.

Sudeste da Ucrânia: O Caminho Crimeano

As coisas mais importantes que foram feitas: a revolta do sudeste nesse fim de semana, a captura da administração regional em Donetsk, Lugansk, Kharkiv e Mariupol, a impressionante mobilização em Odessa, a proclamação da República de Donetsk. Na verdade, uma coisa é clara: o sudeste se levantou. Essa é a segunda onda da revolução ucraniana, a Primavera Russa.

Durante o Euromaidan contra Yanukovich (um presidente do leste) não apenas Kiev se rebelou, mas toda a Ucrânia ocidental. A onda de capturas de administrações regionais se deu apenas no oeste. Por todo o lugar lá o poder foi capturado por forças nacionalistas e ultranacionalistas que estão em simpatia com o Euromaidan. Eles também forneceram a cena provincial de massas em Kiev. Foi uma revolta do oeste ucraniano contra o leste russo. E a primeira fase terminou com uma vitória do oeste da Ucrânia.

Até o golpe o equilíbrio de forças era: o oeste defendia rebelião e insurreição em massa, o leste defendia a ordem constitucional. O oeste era sinônimo de revolução, o leste - com paz e reação. Hoje os papéis se inverteram radicalmente. O oeste derrotou o leste em Kiev e tentou declará-lo como uma vitória da Ucrânia como um todo. Mas não há Ucrânia unida e ela não foi criada em 23 anos de história. Portanto, há apenas o oeste e Kiev ocupada pelo oeste, e o sudeste. Agora, quando a revolução do oeste se transformou em ordem (ainda que ilegal e ilegítima), há uma resposta revolucionária - a revolução do leste. Tudo se tornou oposto. De Kiev, do lacaio pró-americano Nalivayachenko, vem ordens de represálias, prisões de ativistas, supressão de insurreições civis, e o povo do sudeste decididamente tomou seu destino em suas próprias mãos. A Ucrânia ocidental atualmente possui o papel de um regime repressivo, enquanto o sudeste se rebelou, está organizando uma Veche (assembléia nacional), demanda independência, captura administrações regionais, anuncia greve geral e se recusa a obedecer Kiev. Essa é a segunda parte da revolução ucraniana, mas agora o sudeste é um símbolo de rebelião, e Kiev e o oeste são o baluarte da reação.

Qual é a causa da rebelião do sudeste? É fácil responder. Ela se rebelou contra o nacionalismo radical zapadentsy, contra a russofobia e contra os ataques dos EUA e da União Européia. Se pensarmos cuidadosamente, o sudeste se opôs a tudo isso antes, apoiando aqueles candidatos que prometeram reaproximação com a Rússia, o status da língua russa como idioma estatal, o status não-alinhado da Ucrânia internacionalmente, etc. Mas enquanto a lei e procedimentos democráticos estavam em seu devido lugar, o sudeste estava no campo legal. Após o ensaio do golpe ocidental, a legalidade foi abolida. Levou algum tempo para o sudeste perceber isso, e desde 6 de abril podemos dizer que essa percepção finalmente chegou. O sudeste rejeita Kiev, como ela é agora, se recusa a obedecer e assumiu o caminho da rebelião. Essa rebelião é contra Kiev e os zapadentsi da Ucrânia, que Kiev tenta "legitimar". A eleição em maio é o passo mais importante nesse esforço. Portanto, o sudeste se rebelou contra ela.

Se o poder em Kiev fosse diferente, as demandas do sudeste seriam relativamente moderadas. Seria tal como antes, por exemplo, uma reaproximação com a Rússia, a manutenção do status do idioma russo, a recusa a uma integração acelerada à UE e OTAN, etc. E mesmo sem federalização. Mas o radicalismo e a natureza ilegal das autoridades de Kiev após o Euromaidan não deixou alternativa para o sudeste, nem esperança de realização pacífica dessas demandas. Isso era impossível, e o povo do sudeste percebeu. Agora só há três possibilidades: a suave é o federalismo, a média é um Estado independente (Nova Rússia) e a extrema é a reunificação com a Rússia.

Mas para alcançar qualquer das três soluções, o sudeste deve defender sua independência política e militar completa. Kiev, em sua euforia ultranacionalista, definitivamente dará início a represálias contra "separatistas sudestinos instigados por Moscou". Isso significa que o sudeste vai repelir esses ataques, libertará seus líderes comunitários de custódia (tal como o Governador Popular de Donetsk Pavel Gubarev e outros), e criará autoridades independentes e unidades de autodefesa. Sem essa ação Kiev não quer ouvir falar em federalismo. O sudeste pode forçar Kiev ao federalismo apenas pelo poder. E esse poder deve ser sólido, persistente e bem organizado. Mas Kiev é apoiada pelos EUA e pela União Européia - financeiramente e politicamente até o envio de treinadores militares e exércitos privados. Portanto, a luta será desigual.

A assistência direta de Moscou é necessária para equilibrar as chances. E Moscou dará essa ajuda. E aqui nos deparamos com um paradoxo: para atingir a realização até mesmo do programa mínimo (federalização), o sudeste precisará de uma assistência direta de Moscou, quase na mesma medida em que para o programa máximo (reunificação completa) e o programa médio (Estado independente da Nova Rússia). E isso é claramente compreendido pelos próprios rebeldes: daí as bandeiras russas prevalecem em todas as demonstrações de massa e tomadas de poder. É definitivamente uma revolução russa e é abertamente conduzida sob a bandeira russa: o sudeste precisamente se vê com a Rússia, e sente que Kiev e a Ucrânia ocidental, apresentados por Bandera, Shukhevych, o Exército Insurgente Ucraniano e o "Setor Direito" e pelos oligarcas (Poroshenko, Timoshenko, Kolomoysky, Taruta, etc), é completamente alienígena, hostil, perigoso e odioso.

Portanto, é possível chegar a uma conclusão: apesar da posição moderada oficial de Moscou (Putin, Lavrov), a revolução russa do sudeste da Ucrânia é dirigida não apenas para a federalização. O objetivo é claro: o cenário crimeano. E para isso é aceitável e necessário pagar qualquer preço.