12/09/2010

Adriano Romualdi - 1968 na Itália

por Adriano Romualdi

"'Poder estudantil' é uma grosseira fórmula demagógica com a que os comunistas tentam especular sobre as graves descompensações que afligem as universidades italianas. Querem o 'poder estudantil' ou seja a ditadura daquela minoritária franja de estudantes roída pelo marxismo que introduz nas universidades a demagogia permanente e impede aquela seleção dos quadros, aquele aprofundamento dos estudos, que são garantia de maior seriedade na vida pública e de uma maior eficácia nacional. (...). 'Poder estudantil' é uma fórmula mítica que se introduz em um certo mito geral da vida, um mito do qual fazem parte, o 'poder negro', o LSD, Fidel Castro, Che Guevara, Marcuse e a juba".

"Os ocupantes pretenddem lutar contra a sociedade, porém seus mitos, seus costumes e seu conformismo são precisamente aqueles dessa sociedade contra a qual dizem lutar. Dizem estar contra o Estado, a televisão estatal, a adulação e o carinho, dizem estar contra o governo, e os socialistas no governo os protegem, dizem constituir uma alternativa no tempo, porém suas cabeleiras, seus hábitos, seus gestos, e sua música, suas mulherzinhas beat, estão mais conformes com o espírito dos tempos do que se possa imaginar. Se pretendem 'anti-norteamericanos', porém estão podres de americanismo até a medula: suas jaquetas, suas calças jeans, seus gorros, são aqueles dos beatniks de São Francisco, seu profeta é Allen Ginsbert, sua bandeira o LSD, suas canções folclóricas são as dos negros do Mississipi, sua pátria espiritual o Greenwich-Village. São marxistas, porém não à maneira bárbara dos russos ou dos chineses, mas sim nessa maneira particular na qual é marxista um certo tipo de jovem americano desprovido de civilização. Proclamam os 'laços con a classe operária', a 'articulação entre a semântica da reivindicação estudantil e a dialética do mundo operário' porém seu esnobismo é totalmente distanto do ânimo dos verdadeiros operários e campesinos, ninguém mais que esses pintinhos saídos do ovo de uma burguesia podre estão tão distantes da mentalidade de quem tem que lutar com as mais elementares exigências. Seu problema é a droga; o dos operários, o pão".

"É a revolta de uma minoria de burgueses comunistas criada tradicionalmente nas estufas de algumas faculdades vermelhas como Letras, Física ou Arquitetura. É a revolta dos cabeludos, dos bolcheviques de quarto de estar, de uma juventude que, mais que zangada, se poderia chamar dispersa. Eis aqui que o operário, integrado na sociedade burguesa e indisponível para as orgias marxistas, é substituído pelo jovem blasé, o filho de papai com a foto do Che sobre sua escrivaninha de noite".

"Essa revolta que polemiza com a civilização do consumo, é uma típica expressão do 'consumo cultural', de um estampido literário instalado sobre o sexo e o marxismo, sobre a droga e Che Guevara, sobre Fidel Castro e mulheres nuas. Desde o ponto de vista do mercado, o militante do 'movimento estudantil' é o típico consumidor médio da cultura de protesto, que traga a cada dia sua ração de literatura marxista, sexual e necrófila, que as grandes edotiras jogam sobre o mercado em quantidade cada vez maior. O consumidor cultural é progressista, pró-chinês, antirracista, pelo mesmo motivo que ele veste os jeans e bebe Coca-Cola, consome o romance sujo ou o diário de Che como se 'consome' um pacote de feijões ou um rolo de papel higiênico, consomem a revolta juvenil que já se fabrica e se vende como uma mercadoria qualquer".

"O problema ao chegar a esse ponto é por quê uma 'revolução' tão descaradamente inautêntica logrou se impor à juventude, e não só àquela mais conformista, mas sim também àquela mais enérgica e fantasiosa? A resposta é simples: porque da outra parte não existe nada. Enterrada sob um acúmulo de um administrativismo burguês e patrioteiro sob a respeitabilidade imbecil da garantia 'indubitavelmente nacional, indubitavelmente católica, indubitavelmente antimarxista' a Direita não teve um lema que dar à juventude. Em uma época de crescente excitação dos jovens, lhes disse 'sejam bonzinhos'; em uma época de ofensivas e comparações ideológicas, ela durmiu tranquila porquê as porcentagens do FUAN [Frente Universitária de Ação Nacional] nos 'parlamentinhos' universitários estavam estacionários. Se fossilizava nas trincheiras de retaguarda do patriotismo burguês, incapaz de agitar no futuro o grande mito da Europa, as organizações juvenis oficiais vegetaram sem contato algum com o mundo das idéias, da cultura, da história. Bastou um sopro de vento para varrer esse imobilismo que quis ser socarrão, porém foi somente imbecil. Bastaram as primeiras ocupações para compreender que da outra parte - a da Direita (MSI) - não havia nada. A assim chamada classe juvenil se deixou submergir em poucos dias, sem fantasias e sem glória. Quando as bandeiras vermelhas foram hasteadas naquelas universidades que constituíam até poucos anos antes as fortalezas da Direita nacional, muitos olharam a Direita, esperando um sinal. Porém o sinal não chegou: faltaram, que o ânimo e a iniciativa juvenil e as idéias estivessem prontas. Amadurecida nos corredores de partido, em um clima socarrão, a assim chamada classe dirigente juvenil já diminuída a três ou quatro nomes não teve absolutamente nada a dizer frente a formidável ofensiva ideológica das esquerdas. Foi tranquilamente varrida. Conseguiu fazer-se trancar no gueto da banalidade mais retrógrada".

"O PCI cultivou conscientemente toda uma mitologa através de associações culturais, políticas, artísticas, nos quais vem garantida a máxima liberdade crítica em relação ao partido, porém que levam por meio de um certo discurso ao ato de conduzir os jovens na direção do comunismo. O PCI também compreendeu que certo comunismo de célula, ao modo russo, já é algo ultrapassado pelos tempo que corre, e apostou suas cartas em um comunismo estóico, romântico, tropical, sobre os poderes negros e amarelo, sobre os comunismos das barbas, piolhentos, fantasiosos, o comunismo do Che, o cha-cha-cha, de Martin Luther King, e do Aleluia. E esse é o comunismo da moda, o comunismo que agrada a uma juventude cada vez mais fanfarrona. O centro de infecção desse novo comunismo é a editora do multimilionário comunismo Giangiacomo Feltrinello, para os amigos "Giangi", o Rousseau da nova revolução. Desde as livrarias de Feltrinelli saem aos milhares os livros sobre a cultura da droga e sobre Bolívia, sobre os negros e sobre Fidel Castro, nela se podem comprar os distintivos de protesto, é ali onde nasceu a revista Quinze, órgão do 'movimento estudantil'. Pouco importa que as vanguardas chinesas e castristas desprezem o PCI. Elas inclusivem semeiam sempre um trigo que não será segado nas distantes Havana e Pequim, porém sim no comunismo local. O 'movimento estudantil' atrai os jovens em uma ordem de ideias nas quais, acalmados os jovens fervores farão deles bons eleitores comunistas. O PCI sempre controlou a agitação estudantil. Ninguém acreditará que as ocupações de faculdades dilatadas por meses inteiros tenham sido possíveis sem o aparato logístico do partido comunista, nem sem os abastecimentos do FGC. Os pacotes de víveres que foram distribuídos em Roma na faculdade de Letras iam enrolados em cartas eleitorais do PCI. Os professores à cabeça da revolta foram os usuais Chiarini, Amaldi, Asor-Rosa. Os parlamentares à cabeça dos cortejos do 'movimento estudantil' foram parlamentares comunistas".

"Essa é a mitologia de uma burguesia podre que espera na 'revolução', poder conquistar novos paraísos de liberdade e sebo, sem ser de modo algum uma antítese do sistema, mas sim só uma evolução interior do sistema na direção de seu inevitável objetivo: a putrefação dos povos de raça branca e o crepúsculo do Ocidente. O fato é que o partido comunista compreendeu há muitos anos uma verdade que em nosso meio não entrou ainda na cabeça de ninguém, é que um partido extremista, em um momento não revolucionário, com uma situação internacional estática e um sem dúvida sonolento bem-estar em seu interior, pode levar a cabo uma ofensiva ideológica, apoiada em minorias centrada em um certo mito da vida e que levam adiante para conseguir certos efeitos psicológicos. Porque está claro que se pode rechaçar certa linguagem bem-pensante sem cair por isso na retórica vietcongue ou guevarista. Que se pode erguer a bandeira do nacionalismo europeu sem esquecer as garantias necessários à segurança da Europa. Que se pode golpear nas universidades contra a ordem constituída, porém, não se deve esquecer que se deve golpear ao mesmo tempo o comunismo. Já que a Direita..., mesmo em sua crise atual, representa a única alternativa revolucionária para a juventude".