29/08/2017

Julius Evola - Teologia do Estado Nacional

por Julius Evola



(1935)

Resulta conhecido o nome de Wilhelm Stapel. O mesmo publicou recentemente um ensaio muito agudo em relação à crítica da teoria racial (janeiro de 1935). Acreditamos ser interessante dar a conhecer agora algo desse pensador. Ele é o autor de muitas obras de filosofia política e religiosa, conjuntamente com A.E. Günther dirige a revista Deutsches Volkstum e é por certo uma personalidade de primeiro plano na Alemanha contemporânea. A corrente à qual ele se remete tem um caráter espiritual e tradicional, e isso a distingue claramente daquelas formas em grande medida exaltadas e desequilibradas do nazismo racista e paganizante. Recentemente Stapel entrou na luta e demonstrou coragem na defesa da figura de Carlos Magno. Quiçá nem todos os leitores sabem que na Alemanha se desencadeou um processo verdadeiro e próprio contra Carlos Magno, ao qual se acusa de ter traído a causa nórdica, de ter submetido a ideia nórdica à romana, de ter massacrado os núcleos mais puros dos nórdicos, os saxões, em razão de seu fanatismo religioso, e assim sucessivamente: de modo tal que na Alemanha não se diz mais Carlos Magno, mas Carlos o Franco. Se bem vários professores se viram destituídos de sua cátedra por terem defendido Carlos Magno, ainda assim Stapel não hesitou em tomar parte em tal polêmica se declarando positivamente a favor dessa grande figura histórica.

Dar a conhecer as ideias político-espirituais de Stapel é interessante a fim de que na Itália se saiba a respeito do que existe ao lado das formas mais teatrais, bem como mais superficiais e frívolas, do pensamento político alemão: e de que forma se apresenta acima de tudo o problema de conciliar a ideia cristã com o nacionalismo e de dar uma justificativa antissecular e metafísica seja à ideia de Estado, como à de Império. Nós nos referimos ao livro de Stapel, Der christliche Staatsmann - Eine Theologie des Nationalismus (Hamburgo, 1935), que segue sendo sua principal obra.




Stapel manifesta em termos precisos o seu pertencimento à "frente antissecular": ele diz "cristão, conservador, fiel à nação e ao mesmo tempo imperialista" (pg. 6). Para ele, "o Império não é nem a miragem de um desejo subjetivo, nem uma fuga em ilusões, mas uma antiquíssima realidade política de tipo metafísico em relação à qual nos tornamos infieis" (pg. 7). Perante a clara visão da decadência política espiritual moderna, ele invoca a mais resoluta reação de parte de todos aqueles que ainda resistem e sabem combater por um princípio. Eis aqui como surge o problema inicial: "Quando o deísmo exilou Deus na esfera filosófica pondo em seu lugar a 'natureza' - uma natureza que nunca existiu, senão na superstição do século XVIII; quando o Estado não foi mais por graça de Deus, mas por graça do povo; quando os reis não receberam mais seu mandato de Deus, mas de uma obtusa maioria que denominava 'paz' o seu comer sem incômodos, de modo tal que os reis ficassem reduzidos à função de demagogos; quando Jean Jacques Rousseau triunfou em um mundo desdivinizado no ápice de uma Europa sem dignidade, ladeado por sacerdotes que não acreditavam mais em Deus, senão em seus arranjos políticos com os hierofantes da deusa 'Razão', então aos espíritos mais nobres não restou outra coisa que moldar com a substância 'povo' uma imagem divina e exaltar um deus da 'natureza' e da 'razão': a Nação" (pg. 12). Este Deus - o nacionalismo secularizado - nasceu na França e logo, do fluxo e refluxo das guerras napoleônicas, passou a transplantar-se um pouco pela Europa inteira.

Já aqui Stapel fixa, pois, um ponto fundamental, ao acusar um tipo de nacionalismo, que é sempre uma máscara do jacobinismo, uma criatura desconsagrada que nossas tradições não haviam conhecido nunca: fruto, por um lado de uma abdicação e pelo outro de uma prevaricação. O problema é: como liberar a partir de tal plano a ideia da Nação, como integrá-la espiritualmente remetendo-a àquele nível originário, no qual a mesma é vizinha da própria ideia de Império?

Mas um tal problema leva imediatamente Stapel a este outro: um nacionalismo espiritual é conciliável com a ideia cristã? É possível ser cristão sem menosprezar uma tradição de nacionalismo integral?

Para isso, Stapel interroga principalmente a história, considera ali às grandes etapas cumpridas a partir do problema do Estado no desenvolvimento histórico do próprio cristianismo.

Principalmente Jesus. Jesus, segundo Stapel, deixou intacta a autoridade do Estado romano, não se subtraiu à mesma, não a condenou, a suportou do mesmo modo que suportou qualquer outra lei "desse mundo".

Agostinho cria a grande oposição entre soberania terrestre e soberania divina. A cidade terrestre e a cidade celeste são duas realidades qualitativamente irreconciliáveis, e mais, inimigas: corpus diaboli e corpus Dei. Lutero trata de atingir uma conciliação, deduzindo a ideia do Estado e seu direito do mandamento divino: Governa! E acentuando o caráter de serviço implícito em tal mandamento (governo enquanto missão). Finalmente vem as correntes idealistas, as quais transportam o problema para o plano moral. Aqui o centro não é mais Deus, mas a "moral cristã" em maior ou menor medida imanentizada: e se trata de estudar um tipo de Estado conforme com a mesma, quer dizer, conforme com a "lei moral".

Naturalmente que aqui seria necessário fazer alguma observação. Por exemplo, não poderemos de maneira alguma concordar com ele quando afirma que "os romanos não sustentaram nunca pretensões religiosas" (pg. 35) e que, por isso, Cristo não teve nenhum motivo para se opôr a Roma. A verdade é, ao contrário, que Roma valeu para os romanos também como uma realidade sacral. A persuasão de que forças divinas houvessem determinado a aeternitas e o imperium da cidade capitolina, se manteve nos mesmos até o final. O culto imperial romano implicava uma fides não só como lealismo político, mas também como reconhecimento religioso, e justamente por isso, por não poder e não querer reconhecer a autoridade romana em um domínio não só político, mas também sacral, os cristãos se opuseram àquele culto e muitas vezes correram em massa para o martírio. Sustentar, portanto, que a Águia romana não tenha tido outra missão que a de preparar o caminho para a Cruz (pg. 228), resulta uma postura preconceituosa e, no fundo, arbitrária, baseada no preconceito da continuidade do evolucionismo na história. As relações entre o ideal romano do Império e o cristianismo primitivo são, portanto, tratadas por Stapel de forma extremamente simplista.

Uma segunda observação é que Stapel, pour cause, descuida de ressaltar as relações existentes entre o espírito da reforma luterana e a degeneração da ideia religiosa a um nível simplesmente moral, ou mesmo moralista. Basta observar o desenvolvimento da "civilização" anglossaxã protestante para dar-se conta da realidade de tais relações. Lutero, ao subtrair o indivíduo de toda autoridade hierárquica, ao eliminar nele o interesse por qualquer superação ascética enquanto via de participação efetiva, supramoral e suprarracional, no divino, ao dirigi-lo a um mero "serviço" acabaria necessariamente retirando força à ideia religiosa em algo que vive só nas "consciências" dos sujeitos e que se manifesta só como "critério ético" para a ação. Assim, pois, o idealismo ético germânico, ademais da pequena moral anglossaxã, é o herdeiro direto do desvio protestante.

Stapel não enxerga, assim, as raízes primeiras do mal, quando ele insurge decidida e justamente contra as pretensões da filosofia idealista de secularizar o cristianismo, de reduzir o elemento religioso ao moralista, desembocando em uma idolatria da eticidade para uso e consumo de um ritmo pequeno-burguês de vida, onde a "moralidade cristã" deixa de ter o sentido de sacrifício da vida, para se converter em sinônimo de segurança na vida, de pacifismo e de comodidade sem incômodos (pg. 137). Em todo caso, que a moralidade seja apenas religião secularizada, necessária tão só para homens secularizados em tempos secularizados, onde a mesma passa a ser aplicada de forma pedante não à essência, mas aos detalhes exteriores de uma vida (pg. 200); que o moralismo seja o estado de ânimo daqueles que no coração se encontram sem Deus, mas que não obstante não sabem que são cínicos (pg. 210), em suma, que a religião seja uma coisa totalmente diferente da moral, mais elevada, mais vasta, mais viril, mais incondicionada - estas são ideias que Stapel afirma vigorosamente e que se encontram inteiramente consentidas por ele.

Stapel, retomando o problema da justificação cristão do Estado tal como se reduziu nos tempos modernos, quer dizer, sobre uma base moralista, se entrega a demonstrar a absurdidade dessa questão. Ele inclusive formula a questão: existe uma moralidade cristã como um sistema bem definido, apto a fornecer os princípios àquele Estado e àquela política que mais que qualquer outra possa dizer-se "cristã"?

A resposta é claramente negativa. "Os Evangelhos nos oferecem em medida muito pequena um sistema ético fechado e especificamente cristão e por sua vez um sistema tal é muito pouco visível na história dos povos cristãos" (pg. 132). Partindo do princípio de que a moralidade é uma coisa viva, diferenciada e singularizada como tudo que vive, de modo tal que não se pode separar um preceito de uma determinada situação sem reduzi-lo a um fetiche formalista, Stapel mostra todos os absurdos e as impossibilidades sociais e jurídicas que seguiriam ao se generalizar e formalizar preceitos cristãos, por exemplo, os do Sermão da Montanha. A imagem dos lírios do vale, o dar o cobertor a quem só precisa de roupa, o não julgar para não ser julgado, e assim sucessivamente, devem ser considerados como metáforas, como alusões a uma determinada atitude especial. Transformados em princípios éticos positivos, converteriam em impossível todo sistema político, jurídico e inclusive econômico (pgs. 123-124). Por outra parte, a Idade Média não demonstra quiçá a possibilidade de duas éticas tão opostas, como a monástico-ascética e a cavalheiresca, as quais não obstante pretenderam trajar igualmente premissas cristãs? Enfim, pode-se descuidar do fato de que, em relação com simples preceitos éticos, muitos elementos do cristianismo se encontram longe de serem próprios exclusivamente dessa religião?

A conclusão é pois que, não existindo uma "eticidade cristã" como um sistema bem definido de princípios positivos de aplicabilidade social universal, não é possível, sobre uma base ética, definir a noção de um Estado que possa denominar-se específica e tipicamente "cristão".

Uma definição tal é, então, possível a nível de religião pura? Quer dizer, é possível deduzir um tipo cristão de Estado não da ética, mas da religião cristã? (pg. 138).

Aqui se entra na essência do problema. Religião, para Stapel, não é um problema de conhecimento, nem um problema ético, nem um problema psicológico. Ela é uma tomada de posição metafísica, é o ato espiritual com o qual se opta por um reino, por uma frente de combate, por um Senhor, jurando a ele fidelidade incondicionada: e é o reino divino, a milícia contra as forças da terra em nome de Deus. Tal milícia e tal obediência não podem ser traduzidas em fórmulas estereotipadas, justamente porque possuem caráter incondicionado. Implicam aceitar um lugar e uma ação simplesmente porque assim quer Aquele que manda e ao qual se é virilmente fiel aqui embaixo: para além de qualquer "bem" ou "mal", de qualquer felicidade ou desgraça em sentido terreno e ainda não terreno (pg. 152).

Dentro dessa concepção fundamental, fica um só princípio cristão de caráter "social": o do amor. O amor, não obstante, como máxima não tanto "moral" quanto guerreira: como princípio de uma comunidade metafísica, de um "espírito de corpo" que cimenta a unidade daqueles que pertencem à mesma frente. Este princípio, em si, não se deixa traduzir em nenhuma fórmula terrena, muito menos política, menos ainda "humanitária": não é amor terreno, mas amor de Deus, ou seja fidelidade a Deus. Mas então segue-se que "um Estado cristão é tão pouco dedutível a nível religioso quanto era a nível ético. Não há Estados cristãos, apenas homens cristãos. O que distingue estes homens não é uma sabedoria, ou moralidade, ou mansidão particulares, mas sim estarem sob o Senhor de todos os exércitos celestes. Portanto, eles pensem e agem em um espaço maior que o dos outros homens. Para eles não há apenas este mundo, mas também outro mundo por trás do primeiro. Eles agem não só na terra, mas simultaneamente no céu e na terra. Portanto, suas decisões são também diferentes das dos outros. Revestem um caráter absoluto que conduz mais além de tudo que é terreno e também de todas as morais dessa terra" (pg. 157-158). É uma tensão metafísica extremamente criativa, que se segue a isso: tensão apta para se traduzir em efeitos de grandeza ainda temporal. "A força de sofrimento e de domínio do homem cristão atua também de forma terrena. Os Estados nos quais a tensão histórico-metafísica do cristão adormece, os Estados cujos chefes se apoiam na mera moralidade e no humanitarismo, não podem manter a altura atingida. Eles decaem e perecem, para ceder lugar a outras nações ainda plenas de tensão metafísica" (pg. 158).

Não obstante seria necessário observar aqui que uma postura semelhante acaba não tendo qualquer caráter específica e exclusivamente cristão. O impulso a transfigurar em um elemento transcendente todo esforço terreno, uma tensão metafísica enquanto substrato da ideia e da afirmação do Estado, tudo isso se consegue igualmente encontrar no mundo não-cristão ou pré-cristão, partindo da civilização irânica, onde, como é sabido, a religião concebida como militia em nome do Deus da Luz contra as forças escuras de um contra-deus constituiu o pano-de-fundo a partir do qual se reclamavam as ações que conduzira à formação do império do "Rei dos Reis". Stapel, ao purificar a ideia da fidelidade ao outro Reino e da luta pelo mesmo em relação a qualquer elemento contingente, não negando-a perante qualquer sistema positivo de ética, de costumes e parece que mesmo de doutrina, vem no fundo se situar em um plano metafísico, mais que religioso: e ele indica um pressuposto genérico, a se denominar mais espiritual que propriamente cristão ou mesmo religioso, para sua concepção política. Passemos aos desenvolvimentos ulteriores de sua ideia.

O Estado terreno em seu tipo mais elevado, afirmativo, bem acabado, para Stapel se justifica como imagem terrestre de um tipo "divino". Em efeito, já a designação comum da divindade como Senhor, do mundo espiritual como hierarquia de naturezas celestiais implica relações bem determinadas de dominação e de subordinação. Em segundo lugar, a ideia mesma de Reino divino implica circunscrição e distinção: não igualdade e promiscuidade, mas repartição entre amigos e inimigos, entre aqueles que estão com Deus e aqueles que se encontram contra Deus, assim como também uma militia, uma ação militante absoluta. Em terceiro lugar, e de maneira consequente, surge a ideia de uma lei santa e intangível que agrupe conjuntamente àqueles que pertencem ao mesmo Reino e à mesma frente. Quer dizer: dominatio, discretio, nomos (lex). Mas com a posição e o ordenamento de um domínio; com a posição e distinção entre amigos e inimigos; com a posição e a veneração de uma lei, são dados três grandes princípios que servem como esquema metafísico para qualquer verdadeira vida estatal. São estes os princípios para uma teologia da Nação, enquanto Estado forte, hierárquico, ordenado (pgs. 66, 185). Em uma análise ulterior, Stapel mostra, por contraposição, que os direitos fundamentais do Estado tradicional - direito à guerra, à vida e à morte, direito ao juramento e à graça - não podem atingir nenhuma justificação verdadeira, se não estiverem sobre uma base espiritual, metafísica e suprapolítica (pg. 162).

Daí temos outro ponto importante: Stapel concebe o direito político como um "derivado secular" do direito religioso (pg. 178), e vê na ideia política a forma na qual se transferiu um tipo de autoridade e de lei que em sua origem tinha um caráter essencialmente sacral. Isso é efetivamente verdadeiro; são demasiados os testemunhos que tornam esta tese pacífica, em contraposição com as diferentes construções sociologistas ou naturalistas da teoria moderna do Estado. E se chega a esta conclusão: não só as instituições políticas de tipo hierárquico refletem um esquema transcendente, elas tomam "categorias" próprias, in primis et ante omnia, do mesmo "reino celeste", mas também os Estados, originariamente, mais que imagens temporais de uma realidade espiritual, eram já realidades sacrais, que formavam um corpo único com os respectivos cultos nacionais.

Cada um vê a importância desse ponto para a "teologia do Estado nacional" e se descobre também a tática e o fim da argumentação a propósito de Stapel. Aqui se tem, em efeito, o justo lugar para valorizar adequadamente tudo que é peculiar a uma raça, a um determinado corpo étnico, a um povo, não só a nível material, social e biológico, mas também a nível espiritual e religioso. Precisamente para tal fim Stapel varreu preliminarmente o terreno de qualquer pretensa "moralidade" de validade universal, quer dizer, indiferente em relação à raça e à nação, ainda que a mesma pretendesse remeter ao próprio cristianismo. Cada raça tem sua ética, seu direito, seus costumes, sua religiosidade de formas bem distintas e imutáveis. Assim pois, há pouco da "melhor ética", como pouco existe do "melhor Estado" ou da "melhor" economia ou da "melhor" cultura. Tudo isso é relativo. Um povo degenera e perece quando assume uma ética estranha, concepções e princípios que não são conformes com sua própria natureza. Um povo é eticamente sadio quando sua ética e seus costumes se encontram em harmonia com seu sangue e com seu espírito inato - poder-se-ia dizer: com seus "deuses" (Pas. 215-223). "Nós conhecemos somente o ethos conforme a um determinado povo sobre a terra e a lei de Deus no céu" (pg. 216).

Mas justamente aqui intervém a parte mais árdua do problema. Trata-se de ver como chegar a uma conexão entre estes dois termos e de evitar a solução particularista própria do racismo. A dificuldade não é grande, quando se dê ao elemento nacional um alcance simplesmente laico, fisicista, político em sentido estrito, posto que então, sobre um plano diferente e não gerador de distúrbios, pode bem ter peso a lei divina supranacional. Mas quando se passe a conceber o Estado nacional como espírito, como corpo de um culto nacional específico - digamos também: do "Deus" de uma raça - é natural que nos encontremos em um grave compromisso, isto é, frente à tarefa de conciliar Deus com os Deuses, a lei espiritual nacional, a qual não pode ser derrogada sem decair, com a lei espiritual supranacional.

O ponto no qual Stapel crê poder se apoiar para chegar a uma solução, é a afirmação de Jesus, que diz não ter vindo para destruir a lei, mas para cumpri-la, para levá-la à perfeição - plerosis. Aqui Stapel demonstra que por lei, nomos, não se deve entender apenas a lei hebraica, mas em geral qualquer lei ou culto nacional, quer dizer, cada um daqueles ordenamentos jurídico-sacrais que em qualquer Estado constituam o eixo de toda a vida social e espiritual de uma determinada nação. Uma vez formulado isso, a ideia de Stapel é que Deus teria dado cultos e leis diferentes a cada raça, quase no sentido de forças que limitassem os elementos corrompidos, para que as sustentassem e preparassem para acolher à revelação única apta a "salvar". Um único princípio se teria manifestado em uma multidão de divindades nacionais: entre uns como Jeová, entre outros como Zeus, entre outros como Wotan, e assim sucessivamente - e teria querido que tais deuses fossem adorados e que as leis sacrais para o Estado e para o ethos de cada raça particular fossem veneradas, para manter, em geral, um princípio de religiosidade, o qual alimentasse virtualmente a capacidade de acolher logo o cristianismo enquanto espiritualidade supranacional e princípio de verdadeira e universal salvação (pgs. 172-182). O Estado nacional espiritual seria, pois, uma realidade intermediária entre "natureza" (natureza decaída) e "redenção". Ainda se espiritualizado, o Estado não pode conduzir ao "cumprimento" ou plenitude - plerosis - da Lei, aportada por Jesus. O mesmo possui uma vis conservandi, mas não uma vis salutis, pode preservar e preparar, mas não redimir. Se a Igreja conhece um sacramento para o matrimônio - diz Stapel - a mesma não conhece, não obstante, um sacramento para o Estado, e tal sacramento seria, por outro lado, inconcebível (pgs. 119, 185).

No que se vê mais ou menos voltar a ideia tomista anti-augistiniana segundo a qual os Estados seriam já não corpora diaboli, mas ordenamentos queridos pela Providência, ainda que mesmo assim incapazes de conduzir à salvação mais que até certo limite, a partir do qual só é eficaz a força de cima mediada pela Igreja: Igreja a qual, por isso mesmo, é a que governa por cima das diferentes unidades nacionais e dos distintos reinos. Mas essa ideia, no enquadramento das premissas de Stapel, não se mostra muito persuasiva. Ele busca conciliá-la com uma espiritualização da raça e da nação que, se vão ao encontro das tendências mais vivas da Alemanha atual, não encontram vinculação com a antiga postura católica medieval, ponto de partida da qual estava o jusnaturalismo, uma concepção anti-sacral do Estado (formulada justamente para poder recolher na Igreja o monopólio do sagrado); concepção à qual, ademais, nem todos os soberanos da época se sentiam em condições de aderir, e menos que todos, os imperadores guibelinos. Quando Stapel nos diz que "a separação do poder político foi extremamente importante, posto que permitiu que a secularização do Estado não tivesse por consequência a da Igreja e que o Estado pudesse logo se regenerar através da religião" (pg. 161), se cai em um equívoco muito curioso. Deveria em efeito ser reconhecido que a causa maior da secularização da ideia de Estado reside justamente naquela separação dos dois poderes, e que é singular que se pense regenerar em um segundo tempo o Estado com a religião quando antes se reconheceu como um bem que os Estados tenham perdido o caráter sacral que anteriormente apresentavam.

E ainda mais viva é a dissidência quando o Estado, ademais de se espiritualizar, ao tender ao Império, se universaliza. Isso resulta da mesma doutrina de Stapel a respeito.

Nosso autor reconhece que aquela tensão espiritual, que em um primeiro grau atuou como elemento propulsor para a formação de uma sólida unidade nacional, pode dirigir-se em um momento sucessivo rumo a horizontes mais vastos, pode tender a formular um princípio de civilização apto para valer também mais além das fronteiras de uma determinada nação. Isso pode acontecer através de duas vias, negativa uma e positiva a outra - e uma é a via moralista e a outra é a via imperial. O primeiro caso, é o do proselitismo ético. Pretende-se que os valores próprios de uma determinada raça sejam "superiores" aos de outras raças ou nações e se crê ter o direito de impô-los por qualquer meio, não reconhecendo, sufocando, alterando ou desnaturalizando as éticas e as posturas que as outras raças possuem em relação à vida. O resultado é uma nivelação, uma desorganização, um retrocesso do diferenciado a uma uniformidade sem alma. Com tais considerações Stapel torna suas as teses que o racismo sustenta contra todo universalismo antinacional.

O segundo caso é, por sua vez, o de uma raça dominadora que se põe em um nível efetivamente superior e tende a realizar uma unidade na qual as características como as leis das nações particulares não são abolidas, mas respeitadas e integradas. Um elemento dirigente se põe à cabeça de um conjunto de forças diferenciadas e as conduz à sinergia: não como nação perante nação, mas como Império perante nação, portanto segundo uma dignidade muito diferente.

Mas chegando a este ponto, quer dizer, à transfiguração no universal da espiritualidade de uma nação, eis aqui que se formula um dilema: ou o Império aparece aqui como uma realidade verdadeiramente transcendente, supranacional, e então justamente isso constitui aquele cumprimento - plerosis - das várias leis espirituais nacionais, das quais se falou, e pelo que se queria recorrer à lei cristã, ou o mesmo não possui este caráter transcendente, e então decai em seu direito de ser verdadeiramente Império, quer dizer, de ser verdadeiramente de dignidade diferente da de um simples princípio nacional em maior ou menor medida potencializado, divinificado e exasperado. Ainda mais enérgico se formula este dilema para Stapel, na medida em que ele, em suas considerações, não faz nenhuma referência especial à Igreja: referindo-se ao Regnum como a uma realidade espiritual não vinculada a nenhuma organização visível (pg. 233), ele não tem maneira de nos indicar nada que possa limitar a ideia do Império, nada a que essa ideia deveria se subordinar.

Pelo que acontece que se volte diretamente às competições teológico-políticas da Idade Média, às alternativas de um Império que, ou se sente absoluto, e então não pode reconhecer a Igreja e, no fundo, nem mesmo o Cristianismo; ou põe a lei cristã como o verdadeiro lugar da universalidade, e então disso resulta gravemente comprometido como princípio que deva dominar - segundo um direito irredutível àquele que uma simples nação, uma simples raça, um simples Soberano podem reivindicar - o conjunto dos diferentes povos.

Vamos nos deter na metade do caminho e então temos por igual posições pouco satisfatórias, e portanto: ou a solução racista-nacionalista, que conclui em um pluralismo, põe como ideal a tantas raças-nações que em um porvir voltarão a ter cada uma os próprios deuses, as próprias verdades, as próprias éticas e se negarão a reconhecer todo ponto de referência mais elevado; ou bem a solução laica fisicista, na qual se mantém a secularização da ideia da nação e a redução do Estado a um conceito puramente político, no máximo ético, e só sobre essa base é possível fazer triunfar, mais além da multiplicidade de todas essas nações e deesses Estados não-espirituais, a unidade de uma lei espiritual, católica ou cristã.

Razão pela qual se vê que a "teologia do nacionalismo" desenvolvida por Stapel, apesar dos esforços dialéticos de seu autor, não leva a nenhum porto seguro, se a mesma deve ser pensada até o fundo: os vários elementos do problema não se consolidam em nenhuma síntese verdadeiramente homogênea.

Isso não altera o fato de que as exigências recolhidas por Stapel sejam da melhor qualidade, aptas a terem que ser mantidas a qualquer preço. A sincera aspiração por um Estado forte, espiritual e ao mesmo tempo nacional, animado por um entusiasmo pelo alto e pelo sentido de quase formar a frente em terra de fieis de uma realidade metafísica; o rechaço por qualquer psicologismo, por qualquer moralismo e por qualquer abstracionismo anônimo e universalista; a valorização teológica do conceito de poder; o reconhecimento da necessidade e da função do Império enquanto superação seja de um ideal inferior e particularista de nação, seja de qualquer forma de superação materialista (pseudo-império, militarista ou econômico), a aversão pelas hipócritas ideologias humanitárias e pacifistas, pelo ambiente mentiroso em geral, contra a secularização da vida e do homem moderno - todos estes são elementos que em nosso Autor mantém um valor autêntico.

Também há que estar de acordo quando Stapel diz que, na horda, na família, nos grupos e no Estado deve sempre haver UM Chefe, assim também "é necessário que UM povo, em sua grandeza e em seu esplendor, se eleve mais além dos outros; é necessário UM povo que afirme um direito imperial e constitua uma lei - NOMOS - europeia. O nacionalismo, resultado da revolução francesa, deve ser superado por um NOVO IMPERIALISMO" (pgs. 250-252-253). Mas o acordo não vai mais longe, quando Stapel faz pensar que um tal povo para ele é o alemão. Ao Magna Mater populorum nobilis Germania, em verdade nos resultaria demasiado fácil opôr o mais antigo e verdadeiro: Tu regere imperio populos, Romane, memento, e recordar que em todo caso a Alemanha não teve nunca um momento verdadeiramente imperial e universal, ela só o teve sob o signo de Roma e na pessoa dos Príncipes, os quais reivindicaram seu direito não enquanto teutões, mas enquanto "romanos", enquanto romanorum reges. E a contraprova disso é que hoje em dia os racistas extremistas coerentes se encontram na necessidade de renegar, junto a Carlos Magno, também os seus maiores imperadores propriamente guibelinos, e de considerá-los quase como traidores, justamente por todo o elemento "romano" (para os racistas, sinônimo, aproximado de...hebraico) que se encontra no primeiro plano em sua obra, em seu modo de sentir e de dominar.

É característico em toda raça ou povo em fase ascendente sonhar uma missão imperial. Povos que surgem ou que ressurgem - disse Mussolini - são imperialistas, povos que decaem são renunciatórios. A não ser por essa aspiração, só através do experimento da história se pode pretender o respeito e o reconhecimento. Stapel ressalta que "direitos iguais", se não deve equivaler a nivelação artificial e, portanto, a injustiça, pode significar somente: deixar a luta livre tendo concedido paridade de condições. Em tal sentido, o campo na Europa permanece ainda sempre livre para o que queira decidir, através do "experimento das armas", a adequação da própria dignidade e do próprio poder à função supranacional do Imperium.

Nisso, sempre ficaria firme uma superação precisa do nacionalismo jacobino, com seu particularismo desagregador, com seus apetites, com seus ódios, com seus afãs expansionistas e hegemonistas não iluminado por nenhum princípio superior. Quando o ideal pelo qual uns povos descem ao campo de batalha, um contra o outro, é o de uma nova civilização espiritualmente imperial, seu antagonismo, no fundo não é senão uma contingência, pois eles estão unidos apesar de tudo em uma mesma frente, sua luta será leal, e leal será o reconhecimento do inferior para aquele que se mostrou ser superior, será viva a alegria de poder estar à sua ordem na luta contra toda força antagônica e na reconstrução.

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Nota de Tradução: O autor utiliza os termos "racismo" e "racista" com o sentido que hoje tem os termos "racialismo" e "racialista".